Para o nosso trabalho de tipografia sobre os três heterónimos principais de Fernando Pessoa, Alberto Caeiro, Álvaro de Campos e Ricardo Reis, começamos por fazer um esboço daquilo que significava para nós a personalidade dos heterónimos, a partir de pequenos extractos dos seus poemas.
Os esboços que realizamos, foram um ponto de apoio e fio condutor daquilo que viríamos a realizar no futuro, quando passássemos para o Freehand, mantendo-nos quase fiéis às ideias obtidas no início, apenas alterando um outro pormenor, quando nos víamos a braços com uma outra dificuldade técnica imposta pelo programa.
Em suma, as nossas ideias tentaram não ser muito lineares, no que ao texto-base dizia respeito. Tentamos fazer uma análise mais profunda sobre os intervenientes e, dessa forma, chegar a uma representação mais profunda sobre o tema, não revelando o óbvio, e tentando sempre chegar um pouco mais fundo, tal como a literatura o convida.
Alberto Caeiro
Na composição relativa a Alberto Caeiro, optamos por uma composição simples, como é, aliás, uma característica de toda a poesia de Caeiro. A nossa ideia inicial foi desenhar elementos básicos da Natureza, dos quais nos lembramos, quase instantaneamente, das árvores que são um dos elementos essenciais do universo de Caeiro. Todavia, achamos que a nossa composição devia ser mais profunda, mais emotiva, mais surpreendente. Dessa forma, e pegando no verso "Tristes das almas que põem tudo em ordem", compreendemos que Alberto Caeiro critica aqueles que tentam compreender tudo e racionalizar tudo, tentando fazer do mundo uma representação perfeita das suas ideologias. Desse modo, a necessidade constante de Caeiro de simplesmente viver, e de não procurar "colocar o mundo na ordem correcta", decidimos fazer uma representação de um mundo ao contrário, que funciona quase como o mundo interior de Caeiro que não procura nunca explicar o que vê, criando uma espécie de mundo mágico interior pessoal, ao qual só ele tem acesso e o qual apenas ele pode decidir quais as regras a seguir. Neste caso, não há regras, é um mundo totalmente "criado", sentido, a partir das representações da mente de Caeiro.
Álvaro de Campos
No que diz respeito a Álvaro de Campos, as representações ligadas à segunda fase de Campos: Futuristas, remetem todas para ideias similares: a exaltação da máquina, a vivência da fase tecnológica, o exagero de emoções, o ritmo rápido e frenético,... Desse modo, pouco poderíamos fugir à representações um tabto tecnológicas como a inclusão de imagens de engrenagens, que fazem o motor de uma máquina movimentar-se, e o contraste entre cores escuras e claras (recorrendo, neste caso, ao preto e branco, para dar esta ideia de fumo, de exagero, de maquinismos.)
A princípio a nossa ideia era diminuir gradualmente as engrenagens (a nível de dimensão) pela tela, à medida que os "rrrrrrr" do poema, as iriam acompanhando. Na parte inferior da tela, tinhamos ideia de colocar uma lâmpada (que remete para o conceito de electricidade, uma descoberta inovadora, que permite abdicar do carvão para a manutenção e funcionamente de determinadas máquinas) estilhaçada (tal como a mente de Campos, que se refugia nesta fase mais tecnológica, para camuflar um pouco os seus pensamentos e dúvidas existenciais, que serão, em todo o caso, conhecidos, na sua terceira fase), cujos pedaços se juntariam para formar a palavra "Fúria". Mas por motivos de dificuldades técnicas não conseguimos desenhar a lâmpada. Dessa forma, optamos por realizar uma representação mais "subtil" da época futurista, ao qual este poema pertence. Assim, optamos por desenhar um sol que funciona aqui, então, como fonte de energia "alternativa", remetendo aqui para o futuro (desmembrando aqui a ideia de futurismo, tentando captá-lo para umas épocas mais recentes, onde foi possível a invenção de mecanismos que permitissem a exploração da energia solar.), engrenagens, que remetem, imediatamente, para as máquinas, para o movimento que o futurismo exige e para todo o universo fabril, e o contraste entre preto e branco, com as representações de texto que dão a ideia de fumo, de movimento, de indústria tão caracteristicas da época futurista, ao qual este poema de Campos pertence.
Ricardo Reis é o poeta do clássico, do metafísico, do pensamento. Ricardo Reis é um homem contido que não vê necessidade de grandes sobressaltos na vida, que no final provoquem sofrimento, pois acredita que, quer "vivamos, quer não vivamos o rio há-de sempre correr para o mar", o que significa que, independentemente do que fizermos o nosso destino será sempre a morte.
Dessa forma, e inspiradas pelo conceito de "Carpe Diem", optamos por elaborar um projecto simples, sóbrio, bem ao estilo de Reis. Na imagem é possível observar um ambiente calmo, uma floresta, um rio, onde um vulto permanece sozinho, pensando. Para isto, tivemos em mente a frase "Ser-me-ás suave à memória", como se houvesse alguém, sentado à beira-rio (que como vimos, anteriormente, é metáfora da morte) a relembrar alguém, sentindo só, num espaço completamente desbravado que, aparentemente, nada de novo lhe oferece.
Essa personagem é uma representação, de certo modo, do próprio Reis, que procurou viver a sua vida tranquilamente e "sem grandes desassossegos", mas a quem no final só restou solidão e pensamentos derrotistas de que não vale a pena viver que o caminho último será sempre a morte.
Nesta imagem, a personagem permanece, assim, sozinha, observando o decurso do rio e relembrando a "sua pagã triste".
Essa personagem é uma representação, de certo modo, do próprio Reis, que procurou viver a sua vida tranquilamente e "sem grandes desassossegos", mas a quem no final só restou solidão e pensamentos derrotistas de que não vale a pena viver que o caminho último será sempre a morte.
Nesta imagem, a personagem permanece, assim, sozinha, observando o decurso do rio e relembrando a "sua pagã triste".
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